domingo, 15 de março de 2015

Do Conto VIII

SÉTIMO CONTO DOS CORAÇÕES ÉBRIOS
por Marlua

Era festa da carne, carnaval!
Confetes e serpentinas voando pelo céu colorindo a noite. E ela, o Pierrot, atrás do amor da Colombina. A lágrima no canto do olho e na face era líquida, incolor, manchando a maquiagem e embaçando os óculos. Era muita carne e poucas que valem a pena chorar.
Sua Colombina é de carne e osso, de carne como tem que ser no carnaval. Ela, o Pierrot apaixonado em bailinho matinê, colorido demais para suas curvas preto e branca xadrezes.  A Colombina era mareada e ébria. O Pierrot era fêmea, ébria e Pierrot.
Todos os copos cheios, as latas e o som. Era latrina na mente Pierrot.
Eram pernas e braços, mãos e abraços. Todo desejados e negados. Era a tez esbranquiçada com os olhos em chama. Com os braços como o Cristo, mesmo que o sofrimento fosse menos compadecedor. É carnaval, a carne lhe vale. A carne lhe entretém como rodízio em churrascaria em domingo de família. Seu coração em espeto barateando o custo ao seu pesar e contentamento. Atrás dela só não vai quem já morreu, e vai atrás dela um enxame de gente. Carnaval e nada vale.
Volta o Pierrot atrás do amor da Colombina. Horas a fio, coração em fio de alta tensão como o trio que não passou. Colombina ébria e fugaz. Pierrot sendo Pierrot. Cama vazia num bailinho matinê. A fogueira está queimando em homenagem... Não, não! É carnaval!!
Volta o Pierrot apaixonado. Atrás do trio elétrico pula a Colombina ébria. Morreu e nasceu, antes da quarta feira de cinzas. Pierrot sendo pierrot, Colombina sendo Colombina.

-17 de fevereiro de 2015. Vitória da Conquista Bahia. Deitada em mesmos travesseiros de dois anos atrás, mesmos lençóis.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Do Conto VII

SEXTO CONTO DOS CORAÇÕES ÉBRIOS
por Marlua

Todas as chagas, todas as lâminas cortando a carne inteira que sobrara. Mais um ano bom.
A presa fácil em novas garras. Garras macias, leito quente, algema de pelúcia.
Os uivos e lamentos. Engasgou-se com o próprio coração na boca.

Dos contos mais curtos e mais doídos. Viva mais um ano bom!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Das coisas de ninar.

Era ela morte e vida severina.
As secas até mesmo entre as coxas e as águas ardendo nas bocas. 
Dos olhos cerrados como um punho, dos gritos calados como os mudos. A gritaria, a passarinhagem, a alta estrada onde tudo se ia. A longa estrada onde o mar vadeia e a lua roça o monte. Então vem cá, me conte. Quantas luas se passaram, quantas passarinharam, quantas deixou passar?
Senta mais um tiquinho e me diga. Quantos mares atravessados, quantos males curados, quantas malas feitas e desfeitas, quantos lares morados e amados?
Amadores. Eu aqui amando minhas dores, armando as outras dores e chorando de canto de ouvido. Ao pé do teu encanto, como diria o poeta. 
Era ela a vida e obra de Amado. 
Era a iabá, o próprio Jubiabá e todo o Porto dos Milagres. Era da Federação a última a chegar, era do Farol da Barra o último por-do-sol. Era das baías nenhum santo, só o santo ofício. A inquisidora olhando-a do horizonte onde deve ter além algum lugar bonito que não aqui dentro. 
Era ela a bruxa do oeste.
E dos tijolos amarelos só a tez pálida e suas sapatilhas vermelhas pulsando em seu peito.
E os sentimentos todos são macacos de asas.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Do Conto VI

QUINTO CONTO DOS CORAÇÕES ÉBRIOS
Por Marlua

Dessas coisas todas que acontecem como se houvesse um furacão.
Desses rodamoinhos como se brincassem de ciranda com meu coração. Alçava voo meu passarinho preso em gaiola de carne e osso, mas com um vácuo que permitia o voo como se a vida fosse apenas planar no olho do furacão.
Onde já se viu voo no vácuo? Era tão sublime e eficaz que ele foi mantido assim, como todas as coisas em volta. Redoma de carne, costurada e pulsando. Ele não ouvia bem te vis nem mesmo o colibri, ele ouvia o canto estridente de todo o nada, o grito mudo do silêncio.
As letras de música, os toques errados no violão, o ukulelê levando  ele pra longe em seu cérebro pequeno e selvagem. Era como cantar no banheiro, ecos de todas as partes, voz uníssona e asas paradas, planando...
Ele bicou o vinho que apareceu do nada, ele gorjeava e nada. Ele pendia das amarras de carne. A única coisa viva dentro dele era o sopro do vácuo, aquele que nunca desce à garganta, aquele que nunca é mastigado, que permanece com o bico aberto em sons miúdos e agudos. Um grito de dor.
Um pássaro ébrio, num coração no vácuo, costurado e pulsante. Aorta amarrada no seio latejante. Veias serenas até que murchem e cessem os cantos.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Do Conto V

QUARTO CONTO DOS CORAÇÕES ÉBRIOS
por Marlua


Na festa das caravanas, das lonas coloridas, das fogueiras acesas, acesas nos corações. Era ela, o cântico, a cantiga e as danças. Toda vestida, justa e desnuda. Toda cabeça e tronco firme. Toda ela viajando do Caribe às touradas. A pele alva e pintada, as unhas gastas e assimétricas. Noutro lado a metade inteira. A mistura de homens guerreiros e suas helenas. A boca nua e o sorriso aberto. Na alta noite que se ia. O coração sedento e as veias pulsantes nos braços largos. As fêmeas embriagadas.
Toda a festa era em uníssono contra a dança que estava prestes a começar. Toda a festa era boca gulosa a fim de engolir a cigana. Esta por sua vez era boca de comer mundo, era pecado da gula. Fagocitando os olhares e os desejos explícitos em cada gesto. Deglutindo os sonhos descompassados como o toque da percussão. Cuspindo os erros de outrora. Boca de comer mundo.
A surpresa da vinda, da chegada, e mais ainda da inesperada estadia. 
Cessaram-se os uivos, os descompassos e a ceia. 
Novo encontro de mesmos corpos, novo beijo de mesmas bocas, novo mundo de mesmo Adão e mesma Eva, novo Éden. O asfalto quente, a brisa fria, as mãos e o peso nelas. Ah... E essas mãos querendo passear outros rumos. Esses rumos querendo o mesmo caminho e negando a caminhada.  
A tenda esperada. A vergonha do já conhecido, isso até as bocas se reencontrarem.
Era festa da uva. Baco em seu leito e suas virgens. 

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Do Conto IV

TERCEIRO CONTO DOS CORAÇÕES ÉBRIOS
por Marlua

Na alta noite que já se ia, entre a felicidade geral da nação e as mesas lotadas a loba uivava. A presa seguia seu canto como marinheiro segue a mãe d’água. A revolta, a revoada de andorinhas no peito. A meia vista encontrando grandes olhos de gude. Aqueles olhos eternizados por Assis. Dissimulação. Obliquidade.
Um bordel saía dos lábios daquela fêmea etérea. A cigana dançando nas pálpebras fingidas, desejada como caneca de vinho. As juras de amor repetidas e sem credibilidade. Os festejos, as caravanas e a música, tudo traduzido em meio a corpos presentes e desimportantes. Toda uma noite de sexo telepático, todo um show pré-acasalamento.
O canto cessa. Ovações, abraços gratuitos e a fêmea no cio olhando sua presa. O caminho lerdo e os olhares. Os corpos desimportantes, obstáculos. Passos mais largos, a porta, a noite, a presa, a pressa. A jugular pulsando exposta ao frio da noite. Lua cheia.
As células como imã atraindo cada pedaço. As mãos atraídas para os ombros, os seios para o tronco, o sexo para o sexo ainda que sob as roupas. As bocas para as bocas e suas línguas. A deixa, e deixa-se estar. A toca solicitada para o coito cedido. Os corações frívolos, todos eles espalhados pelo mundo pulsando fortes querendo voltar ao peito.

A negação, a aceitação. A ida falsa e a volta gratuita. A nova ida. A velha novidade. O coito interrompido. 

Do Conto III

SEGUNDO CONTO DOS CORAÇÕES ÉBRIOS
por Marlua

A boca da noite na boca da onça. A boca escancarada e cheia de dentes esperando os amores chegarem. O pedido de paz e de novo caminho. A boca rota pela areia branca no gargalo das garrafas vazias.
Era ela. Sequelas de amores vãos. Sequelas de carinhos esguichados como garrafas de champanhe. Olhares como taças em cascata na noite de ano bom. As mãos entrelaçadas nas mãos secas que não eram suas. As gargalhadas mais escandalosas que as coxas desnudas. Amizades pernetas, brisa fria, brisando fraco. ‘Chuá... Chuá...’. Sete ondas vadias lambendo suas pernas esguias, molhando suas coxas e seu ventre feito casal apaixonado em lua de mel. O segundo pedido.
A bexiga cheia, a cabeça tonta, a andança. Corpos felizes e copos vazios. De todas as frutas tropicais e suculentas, era ela quem soltava o sumo. A fruta polpuda, macia, pronta para qualquer sorte. Ao lado a faca afiada, fina, comprida, gelada, pronta para o corte. Na estrada ereta a passos largos a onça ébria e sedenta. A seu lado a presa fácil, lerda e não menos bêbada.
A anágua feito flor, orquídea rubra e alva sendo exposta pela pélvis encharcada de sangue. Se não fossem duas elas, duas fêmeas, duas vulvas, talvez o abrigo e o banho lhe fosse negado. A água quente alvejando a flor desabrochada, amolecendo o talo daquela que foi fruto antes de ser flor. Borrando o rímel negro e a boca carmim.
Filmado pelas mãos trêmulas entre a genitália e pelos olhos negros de pé na porta, selou-se o aborto. Amor abortado no litoral, cozido na água quente, ao ponto, como se faz galinha ao molho pardo. Aborto de ano ou mais.

É réveillon. Viva o ano bom!

Do Conto II

PRIMEIRO CONTO DOS CORAÇÕES ÉBRIOS
Marlua

Ele era esguio. Esguio e magro. Ele era esguio e magro e de porte médio.
Tinha a cara daqueles meninos que riem da vida numa esquina com os amigos, olhando os taxis passarem, tomando uma cerveja no meio da rua. Olhando outros meninos como se olhasse a fome. Olhando meninas como se olhasse meninos.
Eram três ébrios na noite. Ele, esguio, magro e de porte médio; sua embriaguez contumaz e sua fome. Os três trocavam pequenas falas, pequenas discursões sobre o tempo de seca de sentimentos, a falta de alimento para a alma, e de como a cerveja era gelada. Todas conversas de balcão tidas numa esquina de bar. Postura curvada e mãos nos bolsos evitando olhar para os olhos de qualquer um dos amigos de esquina. Evitando olhar para aquele espelho que são os olhos dos que nos amam, dos que nos conhecem.
Ainda conversando sobre nada com um certo ninguém, caminhou um sexto de légua buscando espelhos sujos e opacos. Caminhou um sexto de légua pra achar dores que já lhe faltavam há um tempo, já que distraído jogou todas elas no fundo do copo de cerveja como quem dá um boa noite cinderela a uma mulher desejada.
‘Caminhando e cantando e seguindo a canção’. Ele na noite, semi ébrio, se é que existe alguém que fique assim, pois essa fase de semi embriaguez é a menos notada. Ele fica. Ele não é como os outros, pois ele carrega consigo dores e amores incompreendidos e não correspondidos, não necessariamente nessa ordem. Ele carrega fardos que não são dele, fardos de algodão, imensos, por isso tão pesados, e mesmo assim ele os carrega. Há em seu olhar qualquer coisa de tudo, e na vida qualquer coisa de coisa nenhuma.
Ele cambaleante e cantante como tem que ser um ébrio na noite. Com o coração pulsante fazendo serenatas ao asfalto quente e à noite fria. Ele segue em direção ao Fim da Noite. Este era o nome do baile de máscaras ao qual chegara, o cambaleante amante. Cigarros, álcool, amores roubados, cigarros, cigarros, cigarros, álcool, amigos falsos, cigarros, música, cigarros, suco e vodka, cigarro, vodka, vodka, suco e vodka, cigarros, vinho, vinho, cigarros, suco e vodka, vinho, vodka, cigarros...
Bebeu o mundo inteiro para preencher o vazio. Bebeu o mundo inteiro para transbordar de nada. Bebeu o mundo inteiro. Voltou, o cambaleante amante na noite fria andando pelo asfalto quente que a essa hora já haviam transado e dado parição a ventos frescos. Choroso amante das coisas impossíveis de voltar, lúcido embriagado amante dos amores que perdeu. Cigarros, cigarros, cigarros...
O banheiro, o chuveiro, o quarto. O banheiro, o bidê, o vômito, o vômito, o vômito, o quarto. O quintal, o vômito, o banheiro, o vômito, o chão frio, o vômito. A música de bidê. O quarto, o sono, o vômito, o choro, o vômito, o vômito, o edredom e o vômito sua cama de aninhar-se. O sol. Ele agora da cor do sol, amarelo. Ele, esguio, magro e de porte fetal na sua cama de aninhar. O edredom o envolvendo como uma placenta, o vômito o alimentando como líquido amniótico. Ele, feto, recém gerado nesse mundo canibal. Ele recém gerado de sentimentos infinitos. Ele recém gerado.

Vale ser sabido que houvera nessa noite mais dois personagens, dois grilos falantes, dois amigos de esquina. Mas ele, magro, esguio, de porte de todos os sentimentos do mundo foi quem vomitou a imundície pela qual passara. Foi ele quem vomitou o mundo qual bebera. Foi ele quem viveu na noite em que seu coração morrera. Foi ele, esguio, magro, de porte médio que dormiu adulto e amanheceu feto...

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Do Conto I

CONTO REAL DE UM AMOR INFANTE
por Marlua

Era frio e turbulento, era tempestade em alto mar.
Chega um pirata em sua nau, nau roubada da grande Espanha, nau roubada.
Era gazo, barba ruiva, barba ruiva feito os raios de sol que tocam o horizonte no fim de tarde. 
Era frio e turbulento, tempestade em alto mar.
Era o pirata Barba Ruiva com sua nau a navegar.
Foi-se o vento, foi-se a chuva, a tempestade em alto mar.
E o pirata Barba Ruiva com sua nau a navegar.
Foram cinco meses de aventuras e o pirata Barba Ruiva não tem porto a atracar.
Pensa o pirata: _ Era bom quando frio e turbulento com tempestade em alto mar.
O pirata Barba Ruiva não pode parar de navegar.
Mas atracou em Puerto Rico para a nau abastecer.
Barco doido, Barba Ruiva, barco doido no entardecer, quando o pirata Barba Ruiva sente a falta do que fazer. 
Barba Ruiva e sua nau são a chave e a fechadura. Tantas aventuras, Barba Ruiva, tanto furo de canhão, tanto limo naquele casco, tanta carga não usada. 
Oh, pirata Barba Ruiva, abre pra nós a tua nau. Abre a polpa e a proa pros que querem navegar.
Mais aventuras, Barba Ruiva, novos amigos, novo velho amor real. 
Todos juntos, Barba Ruiva, com seu nome várias vezes a gritar.
Oh, pirata Barba Ruiva, nós e sua nau, navegando em alto mar.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

São Longuinho.

Eu só caio mais uma vez.
Depois eu me levanto serelepe, dou três pulinhos e agradeço a São Longuinho por fazer eu me encontrar de novo.
Gato tem sete vidas.
Eu tenho uma imensa e não preciso cair de pé sempre.
Eu só caio mais uma vez, todo dia, só mais uma vez.
E levanto serelepe e dou três pulinhos e agradeço a São Longuinho por me fazer encontrar o que perdi.
Dizem que tivemos tantas vidas, e tantas outras virão.
E nessas tantas vidas eu caí, e nas que virão eu cairei só mais uma vez, todos os dias.
E me levantei e me levantarei serelepe.
De todos os três pulinhos que dei darei mais três, e agradecerei a São Longuinho por me fazer encontrar o que nem pedi, mas havia perdido.
E eu só cairei mais uma vez, todos os dias só mais uma vez.
Pois o melhor é levantar serelepe e dar três pulinhos e agradecer a São Longuinho por tudo o que ele me fez achar que perdi, só pra me fazer levantar serelepe e dar mais três pulinhos, pra cair todo dia só mais uma vez.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Daquelas coisas que se previu para o ano seguinte.

O carnaval já passou, e aqui continuo meu baile de máscaras.
Mascarando a dor do convívio, mascarando o dia-a-dia, massacrando a alma.
...
_ Uma xícara de calma, por favor! - grito ao garçom.
_ Com ou sem gelo? - retruca o mesmo.
_ Meu coração é quente demais, pode ser sem gelo mesmo pra não estuporar, minha vó disse que qualquer coisinha estupora.
_ Algo para comer? - perguntou-me ele.
_ Não, estou vegetariando. Já senti tanto o cheiro da carnificina que fizeram aqui dentro que me enjoa essas carnes humanas... Mas, tem alma açucarada?
_ Temos sim. Qual sabor deseja?
_ Qualquer um. Meu palato já não sente nada mesmo. Já deixei tanto grudado na boca, nos dentes, na goela, só restou as cáries pelos restos que mordi.
Ele sai, e em tempo hábil retorna com o meu pedido. Mas estou tão impaciente, tão indecisa que desisto da ceia.
_ Pronto. Aqui está o seu pedido. Bon Appetit!
_ Ah... muito obrigada, mas desisti. Percebi que estou entupida com os desaforos de agora a pouco. Acho que ainda não fiz a digestão.
E ele com cara preocupada de quem quer agradar ao cliente me aconselha.
_ Você deveria experimentar um pouco de colo. Deseja que eu traga uma porção?
_ Não muito obrigada! - respondi com o mesmo tom afável com o qual ele me dera a opção de novo pedido. - O senhor me serviu muito bem, mas preciso ir. Acho que vou dar um mergulho pra passar o tempo.
Ele ainda muito cordial me dá novo rumo.
_ Há uma piscina nos fundos do hotel aí na frente. Você poderia se refrescar lá. É só seguir pela lateral da recepção e seguir a placa onde diz 'Acesso ao Amor Próprio.'.
Eu o neguei. Neguei o destino que ele me dera.
_ Obrigada pela atenção, mas já me decidi, vou ao clube ao lado, tem uma piscina enorme que me indicaram na estrada pra cá. Disseram que é só olhar a placa 'Água da Mágoa', não tem erro.
E fui-me, ainda de cabeça baixa mas seguindo os passos que eu só vi na sombra que fazia na calçada. 
Achei aquele rosto tão cordial, tão amável, e ainda me perguntava se eu o tinha agradecido o suficiente pelo bom atendimento. Mas poderia voltar depois para experimentar o que ele me oferecera, pois lembrava o nome dele, ele se chamava Subconsciente. Percebi que logo voltaria para agradecê-lo.


Escrito em 07 de março de 2013.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Daquelas viagens que se faz só e deixa pedaços.

Eram dois lápis de cor.
Dois, um par de lápis de cor.
Um preto e um branco.
Dois lápis de cor.
Um de cor preta e um de cor branca.
Dois.
Era um folha de papel.
Uma folha em branco.
Uma única folha de papel em branco.
Papel em branco.
Uma.
Dois lápis de cor a escrever num único papel em branco.
Os dois lápis de cor.
Um preto e um branco.
Dois lápis riscando o papel.
O preto riscava, o branco era papel em branco.
O preto primeiro, o branco depois pra nunca mais,
Depois de tanto, de tudo, o branco primeiro.
Depois do branco e tudo, o preto em segundo.
Era uma única folha de papel em cinza.
Uma única folha de papel.
Agora toda cinza.
Eram dois lápis de cor.
Dois lápis, um preto e um branco.
Uma única folha de papel em cinza e dois lápis de cor, um preto e um branco.
Eram uma folha de papel, uma cor cinza e dois lápis de cor, um preto e um branco.
Eram todos eles num dia que era sépia.
Colorindo o dia sépia, dois lápis de cor, um preto e um branco numa folha de papel em branco fotografando em cinza o dia sépia.
Era fim de tarde em Paris.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Daquelas coisas que não tem limite quando se está só.

No limite de mim.
No limite da consciência das coisas inconscientes que faço.
No limite das conversas sem limite nas esquinas chuvosas.
O limite das esperas.
O limite das cheganças.
O limite das querências sem limite.
No limiar do são e da insanidade.
Limitando a minha sanidade.
Ilimitando as minhas curas procuradas.
Imitando as palavras que não disse.
Incompreensíveis atos de limitações depravadas.
A minha depravação emocional.
O meu descuido comportamental.
O meu desvio de caráter.
A minha boca suja de chocolate pra aplacar o gozo.
A vontade do gozo nos dedos sujos de doce e pipoca salgada.
A goela encharcada daquilo que meus olhos mostraram.
O fim de tarde em sépia e a noite em pranto.
A renda rasgada das meias sete oitavos.
As unhas descascadas nos lábios inquietos.
A força do púbis solitário nos lençóis frios.
Dos seios frios nos lençóis amassados.
A boca aberta dos gemidos também sós e calados.
Os latidos, os cigarros, as cachaças.
A cachaça encharcando o colo como os olhos encharcam os travesseiros.
O limite do que aguentei só.
O limite do pranto e do canto calado no canto da sala.
Os pés no chão frio e as pernas trêmulas.
No limite do estar só.
No limite de mim.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Daquelas coisas que senti só.

Ela começou despindo-se.
A saia, depois a blusa...
Roupa íntima de algodão? Ela mais parecia uma criança que queria ser gente grande. Então, despiu-se da roupa íntima.
Olhou pela janela e era noite. Era noite tão clara que parecia dia. E a noite estava em seus cabelos, pois ela pintara-se de noite, pois era Lua.
Pulou a janela para a noite, pois era Lua. Noite clara com tantas estrelas no céu, e só ela alumiava a noite, a Lua. Ah... A Lua. A passos largos e saltitando ela olhava a noite sentindo em seus pés descalços calor como se pisasse o sol. Esses calores que lhe subiam às coxas. Ela era Lua e sentia calores. 
Pensava ela: "_ E os passarinhos? E meu ninho?"
Era um pelongo na noite. Buguela, nua, vestida de tantos desejos que não entendia. A noite infinda em seus cabelos. A cor da lua, branca, pálida por sobre a pele, cintilando na noite em seu asfalto quente.
A Lua deitou-se no asfalto. Fitava o céu como se realmente fizesse parte de algo maior, e tantas estrelas no céu que também a fitava e nenhuma lua.
Os calores subiam ao ventre, aos seios, ao coração e à mente vazia. Vazia Lua e transbordante. Buguela e nua.
Ah... A Lua. Acocorada no meio da rua, a Lua. Ninguém a espreitá-la. Levanta e corre, e pensa: "_ E as estrelas? E essas estrelas, tão lindas e sós?!" Estrelas nuas a olhar a Lua. E no céu não havia lua. 
A Via Láctea era o caminho de casa. Caminho de estrelas nuas cintilando no asfalto quente a guiar a Lua. Todos os botecos e os olhares a olhar a Lua. Lua que pelo caminho foi riscando no corpo com pinche algumas escritas suas e de outros. Todas as escritas de outros que descreviam fielmente a Lua.
No céu, no asfalto quente só estrelas suas. Da solitária Lua. Que volta pra casa no fim da noite, Lua, cheia de desejos de fases da lua.
Fora nova, crescente, cheia e agora minguante Lua. De toda a noite que se pintara, dos cabelos aos rabiscos da pele, era ela nua, Lua, na rua vazia. E lá jazia na porta de casa, a Lua. 
Ela saíra pela janela e estava agora na porta. Outra chegada, mesma nua Lua. Despida e despudorada e nua. Por dentro queimava, a solitária Lua. Da porta não passava, a menina Lua. Ela é toda sua.
O único satélite cadente. Na porta de casa. Agora mais uma vez acocorada e um pouco mais atônita. Um pouco mais calada. Um pouco mais minguante, tendendo para a fase nova da Lua.
Abriram-lhe a porta, para que entrasse a minguante Lua. Mas quem abrira-lhe a porta? Já confusa e tonta perguntava-se a Lua.
Braços delgados e já conhecidos tomaram-se pra si a Lua. Não aceitava que ela já era nova e em breve crescente Lua. Deixou-a deitada no leito ao lado da janela pela qual saiu a Lua. Era dia claro, e os velhos braços ainda queriam minguar a Lua.
A ela perguntava-se: "_ Para que braços novos ou asfalto quente em noite estrelada se aqui ainda sou sua?"
A janela aberta e a porta de casa fechada para segurar a Lua. Os braços da noite a deixar no leito a eterna minguante nua. Abre a porta e sai. Tranca a porta e deixa abandonada a Lua que quer ser sol, sentindo-se só. 
Era o único satélite cadente, no leito quente, mais quente que o asfalto, segurando a fase minguante, sem ter calendário para saber qual próxima fase era a sua.
Ainda jaz no leito conhecido, sozinha, nua, a fitar da janela a rua. Jaz nesse leito o único satélite cadente, a minguante Lua.
Pintara-se de sol para sair no dia. Vestida desses orvalhos da manhã para procurar pelos velhos braços e voltar ao leito quente onde deixaram despida e despudorada a pintada de sol, a falsa, a amante vestida, antes nova, crescente, cheia e ainda assim minguante Lua.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Daquelas coisas segundo eu.

Segundei.
Fui segunda feira odiada.
Fui segundo plano, o segundo verso do poema esquecido.
Segundo a minha recente frigidez de alma, fui santa e puta, santa puta.
Seguramente fui inocente, o pranto seguro e o não.
Segundei.
Senti a doação, a frigidez ir embora no meu ventre quente e no frio da barriga.
Saciada da fome.
Insaciável.
Instável.
Segundei.
Fiz planos seguintes.
Fui contra-mão.
A mão esticada e o dedo em riste.
Fui o desejo do garoto mau no Natal.
Segundei.
Fui a cadela burra, a loba banguela e a águia sem garras.
Fui a moça na cama quente.
Fui os passos na noite fria.
Ecoando. O eco, ando, a mente, mentes, rangendo os dentes. 
A escova não usada, os ovos quebrados na chegada.
Segundei.
Segundarei até às vinte e três horas. 
Seguramente, segundarei.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

De todos os ósculos.

Eu quero beijar sua boca torta ao me ver chegar tarde
Eu quero que corra a boca rota que eu não sou sua, mas durmo em suas metades.
Eu quero o céu da boca, escuro, como boca de onça faminta.
Eu quero as bocas que não via porque comia dia-a-dia da boca que pensei que sempre me daria.
Eu quero as bocas, sem sabores, as que não tem você.
Eu quero a sua boca louca, louca boca sem me ter.
Eu tenho a sua boca falsa de perjúrios contra mim.
Não tenho mais a boca doce, mel de cana, cor carmim.
Não tenho, não quero, mas quero toda, inteira, infame boca a beber meu gozo e meu pranto.

Depois, boca maldita, bendita seja, sorria pra mim, boca pecaminosa de todo encanto.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

De quando há que existir.

Hoje não tem música. Hoje não tem verso. Hoje não tem hoje.
Hoje só tem o ontem e o antes do antes de ontem. Só tem as rosas, e a brisa.
Hoje, só hoje, eu estou aqui largada. Em todos os sentidos largada, largadíssima. 
Largada no sofá, largada da vida, largada por você.
Meus trapos não me embelezam, minha polpa no alto da cabeça me envelhece e te afasta mais de mim, ainda mais do que os anos que nasci antes de ti.
Minhas unhas por fazer, minha cara pálida, meu cheiro de nada.
Mas enfim, hoje não tem nada além do ontem, e nada mais que o antes do antes de ontem.
Porque nesses dias, ahhh... nesses dias eu era música, eu era verso, eu era o hoje pensando no amanhã por vir. 
Eu me largava a vontade no sofá esperando seu sorriso passar pelo corredor e iluminar a casa. 
Eu esperava sua polpa no alto da cabeça que te faz tão bela, bela esguia bailarina desastrada a dançar em meu coração, em minha mente, com sapatilhas pontiagudas.
Minhas unhas pintadas de carmim ou rosa chiclete, minha cara no rouge, meu perfume de flor.
Hoje não tem música. Hoje não tem verso. Hoje não tem ontem.
Hoje só tem o ontem e o antes do antes de ontem. Só tem seu cheiro e sua brisa infinita movimentando as dunas dos meus pensamentos desconexos.
Eu estou perdida com o antes de ontem. Eu estou parada no hoje. Eu estou angustiada com o antes do antes de ontem. Eu estou aqui pra você hoje, ontem e antes do antes de ontem. 
Amanhã... Onde estarei?

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

De quando é Leve e Pousa.

Eu poderia amar mais.
Eu poderia até me entregar mais.
Mas não é possível, porque eu já cheguei a ser novecentas e noventa e nove mil e novecentas e noventa e nove pessoas a dar amor. Eu acho que o meu um milhão é mais que meu limite.
Eu não vou deixar de amar assim, tão facilmente.
Eu te darei todas as provas mudas do que eu fui, do que eu sou, do que você me tornou.
Eu trovarei dias e noites, tristes noites sem você, dias lindos porque você ainda acorda ao lado.
Eu serei ainda essa calidez de amar, de doar e sofrer.
Você tentou. Tentativas todas racionais. Não me deixou atuar, nem se deixou levar.
O amor é leve como essas risadas que damos todos os dias. Como as borboletas que espreitamos numa queda d'água ao vivo e em '3D'.
Esse amor é leve, 'leve pluma, leve pousa' . 
Esse amor é o que você deveria deixar acontecer.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

De tudo o que o amor não deixa que vejam.

Esses calores que nos permitimos.
Esses novos sabores descobertos.
Esses carinhos nas cobertas.
Esses regalos de cumplicidade.
Esses olhares fundos e mortos e quentes.
Esses abraços apertados e sufocantes e desejados.
Essa chegada ao fim do dia tão esperada.
Esse emaranhado em meu travesseiro.
Essa gargalhada solta e patética e linda.
Esse brilho da pele em grãos de café.
...
Em que resultará?
A quem insultará?
...
Talvez seu casos para lá e meus cacos para cá!

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Daquelas coisas que eu preciso ouvir.

No que eu estava pensando quando criei você?
Será que era muito inverno aqui em mim que eu precisava desse verão ameno, dessa primavera que me proporciona viver de ti?
No que eu estava pensando quando criei você?
Será que eram os amores muitos que eu cultivava e precisava de nova cara para me ajudar a mantê-los pertinho a mim?
No que eu estava pensando quando criei você?
Será que pensei que nunca precisaria reinventar? Que nunca teria de fazê-la crescer?
No que será que eu estava pensando quando criei você?
Pensei na certeza de um dia voltar a ser tudo aquilo em que eu estava pensando quando criei você.

De tudo aquilo que eu quis gritar e o amor não deixa.

Eu fotografei o nosso amor.
Fiz de imagens estáticas um sentimento caudaloso e corredio.
Entrei em mim e arranquei esses farrapos e teias para que tudo estivesse limpo pra você, mesmo depois de tanto tempo.
Eu corri léguas na noite fria para tirar daqui de dentro mais tralhas para que você não tropeçasse quando entrasse em nosso mundo.
Mas não foi o suficiente, você caiu, e eu te segurei, tentei curar as feridas que você disse não doer, mas mesmo assim fiz curativos. Você não quer mais estar aqui, e eu te prendo, te puxo pra mim... 
Talvez porque ao jogar tantas tralhas fora, esqueci que havia pedaços esfarrapados de mim, daí joguei porta afora com agulhas e linhas, todos os frangalhos que me fiz.
Me dói sim, saber de tudo o que sente, principalmente depois de me doar você, depois de me fazer acreditar que tudo ia mudar, depois de me fazer calar na minha calamidade.
Dói saber que seus sorrisos são a boca escancarada para outrem. E quando molhado, para mim...
Joguei fora frangalhos de mim, frangalhos importantes de mim, e a culpa não é sua, a culpa são dos frangalhos. Eles não reclamaram, eles não reivindicaram, eles não bateram os pés querendo sair ou querendo ficar, eles entenderam que deveriam dar lugar a outros frangalhos, estes que você me fez e não quer costurar.
Meus frangalhos, frangalhos meus, vão em paz e repousem tranquilos sabendo que cumpriram seu papel, pois aqui dentro já existem mais frangalhos.

domingo, 14 de julho de 2013

De quando Domingou.

Chegou o inverno, chegou a falta de cobertores, chegou a falta de calor.
Olho os meninos nas ruas sendo tirados pela polícia porque invadiram uma varanda, varanda para se aquecer. Me pego devendo visitas e amores que não correspondo, mas que me cobram como amizade só para me ter.
Me pego cobrando uma dívida amorosa que eu não tenho porque cobrar, simplesmente porque te odeio, odeio esse 'você' que eu criei e amei.
Me pego correndo do passado porque ele corre atrás de mim a pés ligeiros, e me pego arrancando pedaços de mim e deixando no caminho para que a corrida se torne mais branda, com menos peso, mas vou deixando as migalhas no caminho.
Bethânia me fala que é até bom o domingo pois "domingo eu não choro domingo eu não sofro", mas estou apertadinha dentro de mim, me aquecendo desse inverno que se instalou e talvez me restaure. 


São os amores de longe que me apertam o colo, os amores ainda não consumados na carne, são esses amores que eu levo até o fim, pois estão em mim e ao meu lado quando eu busco algo de bom aqui.

Em conversas de bar, em lamúrias de botequim, é muito engraçado ouvir um samba e parecer até que ele foi feito pra mim. Sentada sozinha em uma mesa de bar, com petisco ao lado e cerveja gelada, num dia gelado, com a mente fria querendo pensar... pensar em nada. Olhando o branco de fora e me pego passando as mãos nos cabelos como se tivesse acabado de acordar. Levantei e me pus a andar, nem paguei a conta, era meu tudo que consumi. E o samba continuava, e eu continuava, e o frio continuava, então porque me apegar a coisas que não continuam, a coisas impalpáveis, a coisas sinuosas que me fazem derrapar no caminho já traçado pra mim? 
É bobeira, assim como escolher escrever crônicas quando nem sei como começá-las, e elas terminam como um 'meu querido diário'. É bobeira, escolher você se você não me escolheu, se só encolheu o que havia de grandioso e nos arrasta pela perna, o corpo mole, a boca cheirando a aguardente e a frigidez.
É bobeira continuar enquanto você não me enxergar. Enquanto eu for somente a puta paga, a escrava doada, o chinelo encostado e furado no meio. Enquanto eu não for, enquanto eu não me deixar ir, é bobeira.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Permettre"


Porque a solidão se me permito a solitude?
Esse querer-me tão imenso, essa paixão exacerbada por mim.
Hoje permito-me uma taça de vinho, um cigarro quem sabe e um dia frio.
Permito-me também devaneios ousados, músicas criadas e cantadas ao vento e o esquecimento de suas melodias e poemas.
Permito-me a vivência do que tanto me privei por querer ser mais respeitosa.
Permito-me os sabores e até as dores que doem menos, porque agora permito-me.
Permito-me ser quem sou, e sentir saudades de mim, e me olhar no espelho, e me melhorar, e me querer, e fazer amor comigo mesma sem peso na consciência.
Permito-me ser quem sou, machucando o próximo... talvez mas sem intenção, até que o próximo perceba que eu só estou permitindo-me.
Permito-me a não exclusão das possibilidades.
Permito-me pensar nos meus obstáculos, e até mesmo esquecê-los em segundos apenas porque uma gota de chuva primou com o sol na janela do ônibus.
Permito-me vagar nua entre bosques quentinhos, e nadar vestida em lagos gelados, porque minha mente agora eu permito.
Permito-me ser quem sou, e não querer depender, nem querer mais defender meu ponto de vista, pois as coisas vão acontecendo e eles permitem-se acontecer.
Permito-me observar, e até deixar de escrever poemas, haikais, para escrever crônicas.
É Chaudon aos ouvidos, Chandon na boca, pés no assoalho, calça ainda apertada, bexiga cheia...
Sou eu, permitindo-me.
Permito-me.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dessas coisas que se quer gritar e o amor não deixa, porque se perde mais, quando não se tem amor.

És tão linda em meu leito calmo e quente.
És tão linda em meu colo frio e latente.
És belíssima aos olhos de quem a vê ao meu lado.
És divina aos meus olhos apaixonados.
...
É feiura que vejo quando me encontro só a devassar sua discrição.
É horror e lástima quando me encontro escorrendo entre suas mãos.
É uma dor doente, dessa demente apaixonada,
Dessa vadia de boca escancarada que você tomou pra si.
...
Talvez passe essa dor.
Talvez eu passe por você.
Eu acho que por mim você já passou.
É só passe de dor, e dor, e dor...
...
Eu vou ser indolor.
Indescritivelmente indolor.
Mesmo que para isso,
Devo-me permitir o que me causas.
Mesmo que para isso eu deva me permitir a dor.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

De quando era para a Flor.


Quando me vem os dissabores da vida,
Você me come com doçura e mansidão.
Quando me vem a seca de sentimentos
Você deságua o rio de loucuras que há dentro de mim.
Quando me vejo só a usar meu prazer
É teu semblante e teu cheiro aqui pertinho,
Facilitando minhas criações, meus momentos...
E quando eu penso que você está indo
Você me dá aquele sorriso de um ano atrás
Com aquela boca de 'quero beijar' de mesmo ano que passou
E aquele perfume de 'vou te marcar' de mesmo doze meses anteriores
E aquele olhar de fera faminta de mesmo tempo em que minha vida começou a fazer sentido.
Eu te amo e é claro tudo isso.
Nossas ranhuras e nossas mordidas.
Arrancam sim um pedaço aqui de dentro de mim,
Mas você me dá metade do seu pão e eu costuro no  lugar.
Você me corta a carne inteira e me faz chorar.
Depois me cobre de 'flores amarelas. vermelhas (...) e da cor do mar'
E a dor se esvai, porque jurei por todas 'essas flores que pra sempre ei de te amar.'
Mesmo sendo piegas, é assim.
Esse furacão dentro de mim, causado por um sopro na nuca,
Sopro seu, calor seu, movimento seu, amor meu pra ti!

terça-feira, 4 de junho de 2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Deste verbo conjugado.



Era esse teu corpo mesmo, esse aí deitado em meus lençóis.
Era esse teu pecado e a minha imensa gula.
Éramos anjos caídos no meu leito morno.
Éramos borboletas volantes e azuis celeste neste céu translúcido dos meus inúmeros travesseiros.
Éramos um par de jarros. Um jarro robusto e outro mais delgado.
Éramos um par de jarros, jarros cheios, cheios de não sei lá o quê.
Éramos duas cadelas no cio. 
Éramos duas abelhas rainhas.
Éramos estrelas cadentes perenes, realizando nossos inúmeros desejos.
...
Éramos tanto.
Éramos tantas coisas.
Só não éramos o que somos hoje.
Disparidade, ambiguidade, falência.
...
Seremos o que nos permitirmos ser.
Eu sou aquilo que você ama.
Você é aquele meu objeto único de desejo, meu querer bem.
Meu amor fecundo e inoportuno pro que vivo hoje.
Seremos aquilo que procuramos, aquilo que no permitimos enxergar.
Se formos atentas, veremos que ainda somos o que éramos!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Da prece que não de Apresse.



Quando eu te vejo é para me colorir e me doer mais
Seus sabores quentes em minhas papilas
Seus odores marcantes em minhas narinas
Seus calores gélidos em minhas mãos
E teus suspiros enérgicos em minha audição.
Suas figuras desfiguradas nos meus desenhos em aquarela
Suas falsas solturas da minha mente amarela
Seus passeios terrenos e lúdicos em minhas pernas
Seus deleites soturnos e diários em minhas almofadas carmins
Sempre a levar o que há de bom, e descobrir o que há de malévolo em mim.
E eu com mania de perseguir o passado, feito cachorro atrás do rabo
Deixando tonto o nosso convívio
Fazendo torto o nosso encontro
Deixando passar as retas curvas da nossa infecunda teatralidade
Vendo-me perder totalmente a nossa poética realidade
E me afundando nessas minhas falsas praticidades.
É o encontro vivo entre meu rabo e minha cara
É o cachorro torto e tonto fora de mim
E dentro minha cadela inválida
Os peitos murchos, as boca flácida
E de repente a loba uivando e soltando mais falácias.
A sarna coçando por entre os dedos
A cólera empobrecendo meu apego
A fome secando minha carne de tanto medo, a fome do medo...
O ouro que antes via e não via me dando febre
O ferro podre envermelhando a minha branca neve fria pele
E meus pedaços doídos coloridos por te olhar novamente nessa podre semente que plantei para colher quaresmeiras em flor no meu enterro, enterro de preces ao ciclo da minha vida. 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

De ontem.

Eu corri o dia para chegar até você
Corri os lençóis para chegar até você
Corri suas coxas pra chegar até você
Corri os seus seios pra chegar até você
Corri os seus lábios pra chegar até você
Corri os seus dedos pra chegar até mim
Corri seus quadris pra chegar até mim
Corri e corri... e agora me encontro aqui
Entregue, com seu gosto em mim, e o meu em ti.

domingo, 7 de abril de 2013

Das Querências.

Eu venho revendo nosso amor. Revendo as redes e a rede que me embrenhou.
Eu venho, venho revendo o nosso amor. E é tanto sofrimento que se fosse sem dor...
Eu venho, venho por meio desse amor avisar. Avisar que não to aqui pra sofrer, nem pra lamentar mais.
Avisar que não vou mais viver desses sonhos, desses pesadelos, desses 'come mente' que comumente me afetam.
Avisar que o meu partiu pra longe de você, e agora está aninhado aqui dentrinho do peito, e canta como curió, e salga feito água do mar e me completa sem precisar de ninguém.
Eu ouvi dois anjos em um. Ouvi meu orixá. Eu ouvi minha mãe me chamar de orgulho. Eu me ouvi precisando de mim. 
Eu senti teu beijo anjo dúbio, anjo mascarado que me desmascarou a dor. Senti teu beijo em meu sonho, com aquele mesmo calor desses doze anos de amor. E me bastou para crer que assim como disse-me, sou 'amor puro', o puro amor. Eu senti teu abraço anjo malino, que buliu meu coração e meus pensamentos e me fez enxergar que o meu lamento era não saber o que lamentar. E eu chorei, e me afoguei, e me afaguei, e vi que meu lamento é ter fugido de mim...
Olhe lá!!! Sou eu voltando pra casa!



P.S.: À Rafael Gabriel que me ensina como é bom me amar, e me doa um pouco dele, porque sabe que ele é parte de mim, e que eu preciso de mim.

Do que já se sabe.

Eu descobri. Descobri que o amor é pequeno demais para ser exemplo do que eu sinto aqui no peito. Esse sentimento cálido, calado, ardente e submerso em óleo fervente. É minha Ayurveda, meu Graal. E me dilacera e entristece, assim como me come com boca gulosa a estremecer minha própria gula, e me sorve em goles calmos a calar meus pecadinhos, e fazer-me berrar aquilo que não sentes mais. Logo, descobri que o 'tao' do amor dói.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Daquelas Setas no caminho.

Se há mais alma eu não sei. Sei que há mais lágrimas no peito que nos meus olhos, porque é muita inundação aqui dentro.
São as tristezas e as lembranças mornas de algo aqui quente e aí...
É tudo aquilo que me nega e me oferece de mal grado.
É tudo aquilo que me permite ser e me poda feito árvore que empurra o poste.
É a falta de energia elétrica, de água encanada, de semente para semear.
É um sentimento sem sentido que nos leva para a idade da pedra.
É um sentimento em seu sentido, que você não vê.
São as setas que aponto para você, sem arco, só o peito aberto e os braços escancarados.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Go".

Foi um pedaço de mim que se foi
A zabumba sem o grave
O triângulo sem o agudo
Eu e a Flor sem um jardim
Foi o que se foi
Foi aquele pedaço de mim!

domingo, 24 de março de 2013

De você.

Aprendi a amar.
Aprendi a amar seus defeitos e suas lamentações.
Aprendi a curar suas dores e cegar em seus clarões.
Aprendi a aprender com sua lucidez, e mais com sua loucura.

Aprendi a esperar.
Esperar que passem seus desesperos.
Esperar que volte ao meu peito,
E me cubra com seu amor febril.

Aprendi a desesperar.
Quando você sai,
Quando você vai,
E eu não sei se vais voltar.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Festa.


Eu quero me vestir de carnaval.
Correr ladeira, pular trio...
Eu quero me vestir de São João.
Pular fogueira, soltar balão...
Eu quero me vestir de festa,
E dançar pra você a dança de acasalar....
E ser feliz, e me vestir de Brasil, e me despir pra você!!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A ti, Morena.

Cor dos meus dias.
Perfume das minha flores, amarelas, vermelhas, azuis...
Colore meu peito novamente.
Toma-me inteira e esqueça o mundo.
Cala-me a boca num grito surdo, pra só minh'alma ouvir
Pra que meu canto soe novamente
Pra que minhas mãos corram mais uma vez os caminhos de bem querer
E diga que bem me quer
E me faça deixar de pedra, pedra no caminho
E sim caminho, para lhe fazer correr
E sim amor novo, velho amor novo, pra lhe amar de vez
Pra lhe fazer minha de vez
Pra não deixar passar mais uma vez o momento de ser feliz
Me corrija, me ponha em uma cruz e finque os pregos do seu desejo e da sua vontade
Que eu serei só satisfação ao te servir.
Ao te fazer relembrar de mim.
Queira novamente meus lábios carmim
Minha branca tez.
Me beba como capuccino,
Me coma como pão quente
E me deixe novamente fazer parte de ti...
Oh, Cor dos meus dias!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Hoy"

E quando se perde o gosto, o gostoso sabor da chuva na terra?
E quando se perde o sal do doce e amargo do sal?
E quando se apura em não se ouvir, em não sentir quando se está do lado?
E quando a presença te incomoda?
E quando a presença olfativa de atrai?
E quando a presença te incomoda?
E quando outra presença te distrai?
E quando são gritos pra chamar a atenção?
E quando é incompreensão?
E quando são tortos os caminhos?
E quando não o são?
E quando se acha que não era pra ser?

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Paralelo".


Eu quero voar, Vento
Em teus redemoinhos e cachos ao chão
Não me deixe assim, não
Me sopre de volta pra onde for
Seja lá onde o onde for

Não sei calar
Pedra falante de desenho animado
Pedra sabão de carinho moldado
Pedra de areia em morro de barro

Não sei ouvir
Orelha de livro gastado
De elefante no circo domado
De surdez aguda e ouvido arrancado

Não sei voar, Vento
Em teus redemoinhos e cachos ao chão
Não me deixe assim, não
Me sopre de volta pra onde for
Seja lá onde o onde for