domingo, 15 de março de 2015

Do Conto VIII

SÉTIMO CONTO DOS CORAÇÕES ÉBRIOS
por Marlua

Era festa da carne, carnaval!
Confetes e serpentinas voando pelo céu colorindo a noite. E ela, o Pierrot, atrás do amor da Colombina. A lágrima no canto do olho e na face era líquida, incolor, manchando a maquiagem e embaçando os óculos. Era muita carne e poucas que valem a pena chorar.
Sua Colombina é de carne e osso, de carne como tem que ser no carnaval. Ela, o Pierrot apaixonado em bailinho matinê, colorido demais para suas curvas preto e branca xadrezes.  A Colombina era mareada e ébria. O Pierrot era fêmea, ébria e Pierrot.
Todos os copos cheios, as latas e o som. Era latrina na mente Pierrot.
Eram pernas e braços, mãos e abraços. Todo desejados e negados. Era a tez esbranquiçada com os olhos em chama. Com os braços como o Cristo, mesmo que o sofrimento fosse menos compadecedor. É carnaval, a carne lhe vale. A carne lhe entretém como rodízio em churrascaria em domingo de família. Seu coração em espeto barateando o custo ao seu pesar e contentamento. Atrás dela só não vai quem já morreu, e vai atrás dela um enxame de gente. Carnaval e nada vale.
Volta o Pierrot atrás do amor da Colombina. Horas a fio, coração em fio de alta tensão como o trio que não passou. Colombina ébria e fugaz. Pierrot sendo Pierrot. Cama vazia num bailinho matinê. A fogueira está queimando em homenagem... Não, não! É carnaval!!
Volta o Pierrot apaixonado. Atrás do trio elétrico pula a Colombina ébria. Morreu e nasceu, antes da quarta feira de cinzas. Pierrot sendo pierrot, Colombina sendo Colombina.

-17 de fevereiro de 2015. Vitória da Conquista Bahia. Deitada em mesmos travesseiros de dois anos atrás, mesmos lençóis.

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