O carnaval já passou, e aqui continuo meu baile de máscaras.
Mascarando a dor do convívio, mascarando o dia-a-dia, massacrando a alma.
...
_ Uma xícara de calma, por favor! - grito ao garçom.
_ Com ou sem gelo? - retruca o mesmo.
_ Meu coração é quente demais, pode ser sem gelo mesmo pra não estuporar, minha vó disse que qualquer coisinha estupora.
_ Algo para comer? - perguntou-me ele.
_ Não, estou vegetariando. Já senti tanto o cheiro da carnificina que fizeram aqui dentro que me enjoa essas carnes humanas... Mas, tem alma açucarada?
_ Temos sim. Qual sabor deseja?
_ Qualquer um. Meu palato já não sente nada mesmo. Já deixei tanto grudado na boca, nos dentes, na goela, só restou as cáries pelos restos que mordi.
Ele sai, e em tempo hábil retorna com o meu pedido. Mas estou tão impaciente, tão indecisa que desisto da ceia.
_ Pronto. Aqui está o seu pedido. Bon Appetit!
_ Ah... muito obrigada, mas desisti. Percebi que estou entupida com os desaforos de agora a pouco. Acho que ainda não fiz a digestão.
E ele com cara preocupada de quem quer agradar ao cliente me aconselha.
_ Você deveria experimentar um pouco de colo. Deseja que eu traga uma porção?
_ Não muito obrigada! - respondi com o mesmo tom afável com o qual ele me dera a opção de novo pedido. - O senhor me serviu muito bem, mas preciso ir. Acho que vou dar um mergulho pra passar o tempo.
Ele ainda muito cordial me dá novo rumo.
_ Há uma piscina nos fundos do hotel aí na frente. Você poderia se refrescar lá. É só seguir pela lateral da recepção e seguir a placa onde diz 'Acesso ao Amor Próprio.'.
Eu o neguei. Neguei o destino que ele me dera.
_ Obrigada pela atenção, mas já me decidi, vou ao clube ao lado, tem uma piscina enorme que me indicaram na estrada pra cá. Disseram que é só olhar a placa 'Água da Mágoa', não tem erro.
E fui-me, ainda de cabeça baixa mas seguindo os passos que eu só vi na sombra que fazia na calçada.
Achei aquele rosto tão cordial, tão amável, e ainda me perguntava se eu o tinha agradecido o suficiente pelo bom atendimento. Mas poderia voltar depois para experimentar o que ele me oferecera, pois lembrava o nome dele, ele se chamava Subconsciente. Percebi que logo voltaria para agradecê-lo.
Escrito em 07 de março de 2013.
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