Ela começou despindo-se.
A saia, depois a blusa...
Roupa íntima de algodão? Ela mais parecia uma criança que queria ser gente grande. Então, despiu-se da roupa íntima.
Olhou pela janela e era noite. Era noite tão clara que parecia dia. E a noite estava em seus cabelos, pois ela pintara-se de noite, pois era Lua.
Pulou a janela para a noite, pois era Lua. Noite clara com tantas estrelas no céu, e só ela alumiava a noite, a Lua. Ah... A Lua. A passos largos e saltitando ela olhava a noite sentindo em seus pés descalços calor como se pisasse o sol. Esses calores que lhe subiam às coxas. Ela era Lua e sentia calores.
Pensava ela: "_ E os passarinhos? E meu ninho?"
Era um pelongo na noite. Buguela, nua, vestida de tantos desejos que não entendia. A noite infinda em seus cabelos. A cor da lua, branca, pálida por sobre a pele, cintilando na noite em seu asfalto quente.
A Lua deitou-se no asfalto. Fitava o céu como se realmente fizesse parte de algo maior, e tantas estrelas no céu que também a fitava e nenhuma lua.
Os calores subiam ao ventre, aos seios, ao coração e à mente vazia. Vazia Lua e transbordante. Buguela e nua.
Ah... A Lua. Acocorada no meio da rua, a Lua. Ninguém a espreitá-la. Levanta e corre, e pensa: "_ E as estrelas? E essas estrelas, tão lindas e sós?!" Estrelas nuas a olhar a Lua. E no céu não havia lua.
A Via Láctea era o caminho de casa. Caminho de estrelas nuas cintilando no asfalto quente a guiar a Lua. Todos os botecos e os olhares a olhar a Lua. Lua que pelo caminho foi riscando no corpo com pinche algumas escritas suas e de outros. Todas as escritas de outros que descreviam fielmente a Lua.
No céu, no asfalto quente só estrelas suas. Da solitária Lua. Que volta pra casa no fim da noite, Lua, cheia de desejos de fases da lua.
Fora nova, crescente, cheia e agora minguante Lua. De toda a noite que se pintara, dos cabelos aos rabiscos da pele, era ela nua, Lua, na rua vazia. E lá jazia na porta de casa, a Lua.
Ela saíra pela janela e estava agora na porta. Outra chegada, mesma nua Lua. Despida e despudorada e nua. Por dentro queimava, a solitária Lua. Da porta não passava, a menina Lua. Ela é toda sua.
O único satélite cadente. Na porta de casa. Agora mais uma vez acocorada e um pouco mais atônita. Um pouco mais calada. Um pouco mais minguante, tendendo para a fase nova da Lua.
Abriram-lhe a porta, para que entrasse a minguante Lua. Mas quem abrira-lhe a porta? Já confusa e tonta perguntava-se a Lua.
Braços delgados e já conhecidos tomaram-se pra si a Lua. Não aceitava que ela já era nova e em breve crescente Lua. Deixou-a deitada no leito ao lado da janela pela qual saiu a Lua. Era dia claro, e os velhos braços ainda queriam minguar a Lua.
A ela perguntava-se: "_ Para que braços novos ou asfalto quente em noite estrelada se aqui ainda sou sua?"
A janela aberta e a porta de casa fechada para segurar a Lua. Os braços da noite a deixar no leito a eterna minguante nua. Abre a porta e sai. Tranca a porta e deixa abandonada a Lua que quer ser sol, sentindo-se só.
Era o único satélite cadente, no leito quente, mais quente que o asfalto, segurando a fase minguante, sem ter calendário para saber qual próxima fase era a sua.
Ainda jaz no leito conhecido, sozinha, nua, a fitar da janela a rua. Jaz nesse leito o único satélite cadente, a minguante Lua.
Pintara-se de sol para sair no dia. Vestida desses orvalhos da manhã para procurar pelos velhos braços e voltar ao leito quente onde deixaram despida e despudorada a pintada de sol, a falsa, a amante vestida, antes nova, crescente, cheia e ainda assim minguante Lua.
3 comentários:
Consigo imaginar cada detalhe do que vc escreve.
São as vivências.
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