quarta-feira, 17 de julho de 2013

Daquelas coisas que eu preciso ouvir.

No que eu estava pensando quando criei você?
Será que era muito inverno aqui em mim que eu precisava desse verão ameno, dessa primavera que me proporciona viver de ti?
No que eu estava pensando quando criei você?
Será que eram os amores muitos que eu cultivava e precisava de nova cara para me ajudar a mantê-los pertinho a mim?
No que eu estava pensando quando criei você?
Será que pensei que nunca precisaria reinventar? Que nunca teria de fazê-la crescer?
No que será que eu estava pensando quando criei você?
Pensei na certeza de um dia voltar a ser tudo aquilo em que eu estava pensando quando criei você.

De tudo aquilo que eu quis gritar e o amor não deixa.

Eu fotografei o nosso amor.
Fiz de imagens estáticas um sentimento caudaloso e corredio.
Entrei em mim e arranquei esses farrapos e teias para que tudo estivesse limpo pra você, mesmo depois de tanto tempo.
Eu corri léguas na noite fria para tirar daqui de dentro mais tralhas para que você não tropeçasse quando entrasse em nosso mundo.
Mas não foi o suficiente, você caiu, e eu te segurei, tentei curar as feridas que você disse não doer, mas mesmo assim fiz curativos. Você não quer mais estar aqui, e eu te prendo, te puxo pra mim... 
Talvez porque ao jogar tantas tralhas fora, esqueci que havia pedaços esfarrapados de mim, daí joguei porta afora com agulhas e linhas, todos os frangalhos que me fiz.
Me dói sim, saber de tudo o que sente, principalmente depois de me doar você, depois de me fazer acreditar que tudo ia mudar, depois de me fazer calar na minha calamidade.
Dói saber que seus sorrisos são a boca escancarada para outrem. E quando molhado, para mim...
Joguei fora frangalhos de mim, frangalhos importantes de mim, e a culpa não é sua, a culpa são dos frangalhos. Eles não reclamaram, eles não reivindicaram, eles não bateram os pés querendo sair ou querendo ficar, eles entenderam que deveriam dar lugar a outros frangalhos, estes que você me fez e não quer costurar.
Meus frangalhos, frangalhos meus, vão em paz e repousem tranquilos sabendo que cumpriram seu papel, pois aqui dentro já existem mais frangalhos.

domingo, 14 de julho de 2013

De quando Domingou.

Chegou o inverno, chegou a falta de cobertores, chegou a falta de calor.
Olho os meninos nas ruas sendo tirados pela polícia porque invadiram uma varanda, varanda para se aquecer. Me pego devendo visitas e amores que não correspondo, mas que me cobram como amizade só para me ter.
Me pego cobrando uma dívida amorosa que eu não tenho porque cobrar, simplesmente porque te odeio, odeio esse 'você' que eu criei e amei.
Me pego correndo do passado porque ele corre atrás de mim a pés ligeiros, e me pego arrancando pedaços de mim e deixando no caminho para que a corrida se torne mais branda, com menos peso, mas vou deixando as migalhas no caminho.
Bethânia me fala que é até bom o domingo pois "domingo eu não choro domingo eu não sofro", mas estou apertadinha dentro de mim, me aquecendo desse inverno que se instalou e talvez me restaure. 


São os amores de longe que me apertam o colo, os amores ainda não consumados na carne, são esses amores que eu levo até o fim, pois estão em mim e ao meu lado quando eu busco algo de bom aqui.

Em conversas de bar, em lamúrias de botequim, é muito engraçado ouvir um samba e parecer até que ele foi feito pra mim. Sentada sozinha em uma mesa de bar, com petisco ao lado e cerveja gelada, num dia gelado, com a mente fria querendo pensar... pensar em nada. Olhando o branco de fora e me pego passando as mãos nos cabelos como se tivesse acabado de acordar. Levantei e me pus a andar, nem paguei a conta, era meu tudo que consumi. E o samba continuava, e eu continuava, e o frio continuava, então porque me apegar a coisas que não continuam, a coisas impalpáveis, a coisas sinuosas que me fazem derrapar no caminho já traçado pra mim? 
É bobeira, assim como escolher escrever crônicas quando nem sei como começá-las, e elas terminam como um 'meu querido diário'. É bobeira, escolher você se você não me escolheu, se só encolheu o que havia de grandioso e nos arrasta pela perna, o corpo mole, a boca cheirando a aguardente e a frigidez.
É bobeira continuar enquanto você não me enxergar. Enquanto eu for somente a puta paga, a escrava doada, o chinelo encostado e furado no meio. Enquanto eu não for, enquanto eu não me deixar ir, é bobeira.