quarta-feira, 28 de março de 2012

Estações.

Desenho de Marlua de Sousa Correia


É esta primavera dentro de mim.

Primavera que não consegue dar lugar ao inverno.
No máximo um outono, com folhas que caem rapidamente.
E novamente a primavera!!

É este verão dentro de mim.
Verão que não consegue dar lugar ao inverno.
No máximo um outono, com folhas a se recompor.
E novamente a primavera!!

São estas estações dentro de mim.
Que só me fazem aquecer a alma, e talvez o corpo.
Num cobertor de amar, numa cama de aninhar,
Em um beijo de calar a boca e pecar a gula.

É esta estação fora de mim.
Que eu persigo para esfriar a mente, o ventre.
Sem cobertores, sem camas, só calafrios.
Com a boca aberta num grito e o estômago da alma vazio.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Provir.



Desenho de Meg Sousa


Hoje não carrego mais mágoas no peito, elas se esvaíram em meus olhos.
Hoje não carrego mais nada por dizer, as palavras já estão gravadas no papel.
Hoje não carrego mais ninguém além de mim dentro de mim.
Hoje não carrego futuros além do meu presente.
Hoje não carrego presente que não me dê futuro.
Hoje, e mais ainda hoje, não carrego passado, pois ele pesa no presente e apaga o meu futuro.

Amanhã carregarei mágoas no peito, e chorarei.
Amanhã engolirei as palavras até que estas estejam escritas.
Amanhã estarei cheia de alguém além de mim, porque sei bem quem me quer.
Amanhã meu futuro será o presente.
Amanhã meu presente há de me trazer um futuro.
Amanhã, e mais ainda amanhã, carregarei meu passado.

O ontem não existiu. E ponto.

Para Quem Quiser Ouvir.



Vou aprender a voar. Aprender a voar para não cair nos precipícios, nos despenhadeiros com uma pedra amarrada ao pé.
Vou aprender a cantar. Aprender a cantar jargões conhecidos e velhas máximas, porque meu canto ninguém entende.
Vou aprender a andar. Andar somente para mim, parar de carregar cargas que não me pertencem, para que eu possa ensinar o outro a caminhar.
Vou aprender a exalar. Exalar meu perfume que poucos conhecem, perfume de fulô e de mato.
Vou aprender a citar. Citar Gandhi, Chaplin, Neruda e Drumond, pois meus poemas não fazem sucesso.
Vou aprender a expor os espinhos que não tenho. Aprender a gritar o grito que não tenho na garganta. 
Vou aprender a cantar a sua música para exteriorizar você de mim, pois não há ar de dominador que agora me domine.
Vou aprender a passar desapercebida, porque o amor que senti não apaga, mas esconde a chama, porque não sei se ele se chama realmente amor.

terça-feira, 20 de março de 2012

Declaração às Avessas.


É saudade que tem em meu peito?
É vontade de estar em seu leito e deleitar teu gozo!
É a imagem do corpo na cama, dos olhos na boca.
É o sorriso nos lábios e a pele em arrepio.
São os cabelos despenteados, a nuca mais quente, a boca mais fria, as coxas mais sedentas.
A calmaria após o dilúvio, a noite após o dia, os bicudos que se beijam.
A dor da partida, o receio da chegada, a vontade do abraço e da caminhada.
As bobices de outrora invadindo o nosso dia.
A distância que aproxima e traz a calmaria.
A declaração em tinta e fibra sem resposta, eu só quero uma coisa, a volta.
Poder roubar-te o riso, e a saliva. E assim torno-me repetitiva.
Gastar a palavra em "amo-te's". Calar a palavra em perdões.
Só quero de volta minha morada, minha caverna, meu porto seguro. 
Só quero o teu corpo, tua mente, o meu ninho.



quinta-feira, 15 de março de 2012

Desabafo.

São as descobertas mais gostosas. Mas também as pedradas mais doídas. Pensei que amar alguém assim tão rapidamente e intensamente fosse mais fácil.
Os lábios doces, agora novamente ácidos a derreter minha alto-estima, meu brio de mulher, minha fragilidade de ser vivo. As mão que acariciam são as mesmas que me estapeiam de longe, mas ainda assim doem. Ouvi Janis com sua voz rouca a cantar aquilo que ela nem sabia por estar num mundo só seu, numa loucura só sua... ou talvez sabia, porque sofria, sofria e cantava o que sofria. Li Sade, e senti vontades, senti asco, senti algo... não sei dizer, mas senti.
Quando me pego a pensar no que é tão bom e tantas vezes tão dolorido me chama a atenção Oscar, que me diz que muitos não se preocupam em viver apenas existem. Eu quero viver, quero muito viver ao lado de alguém que mesmo não estando presente esteja comigo, que mesmo não querendo estar longe o faça apenas por saber que me fará feliz, me dando aquele tempo só meu, que me aceite como moleque que sou, que veja a mulher que há dentro de mim, sem se importar com os estereótipos... Quero alguém que me aceite.
Se achei essa pessoa?? Talvez. Se estou feliz?? Nem sei, e ás vezes sei.. e tantas vezes tenho tanta certeza que sei que cego até a me iludir, e são tão boas a brincadeiras em meu lúdico mundo.
Em você desenhei círculos por todo o corpo, e cavei o abismo que caí. Em você dei meus mais doces beijos, e bebi todo o ácido de sua boca amarga por outros. Em você deitei meu ninho para lá ficar e ver o sol cair e se levantar. Em você plantei a semente que eu jamais queria germinar. Em você me achei, para sentir novamente aquilo que me foi roubado. Em você consegui existir com tudo e nada que eu tinha, por dividirmos aquilo que somos, aquilo que nem sabíamos que somos. Então não me perca assim, não deixe de me fazer o bem somente porque dizem que dois bicudos não se beijam. 
Quero somente que se lembre, que a minha melhor parte está fora de mim. Está em você. Não me perca assim!!

terça-feira, 13 de março de 2012

A Vida Como Ela É.

Vamos criar uma ciranda em que nada faça sentido.
Se o gato quebrou o anel de vidro é por instinto.
Se a gata pintada zigue-zague, zigue-zague e sai, é por seus motivos.

Vamos contar estórias que façam sentido.
Lobo mau é lobo faminto.
Bruxa má é por falta de seu próprio feitiço.
Menina boa é porque aprendeu a dissimular e esconder seus vícios.

Vamos ouvir músicas que embriaguem os sentidos.
Numa canção com amor e afeto, olhar o barco que passa, sentir o vento que chia.
Isso sim é ter em seu minuto um ecoar de alegria, e deixar sair do peito o amor, o querer, num grito.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Essa Deliciosa Descoberta...

Foi a busca por si. A pressa por si. A novidade descoberta por si só.
Fora a mão que acalanta. Fora os olhos gulosos. Fora e é a língua no céu, e no céu da boca.
Seu riso, luz. Tuas mãos, afago. Teu corpo, calor.
Teu sono, miragem. Tua boca, desejo. Teu colo, meu porto.

É  assim, a vida que me permiti viver. 
A vida que me permitiu viver.
A vida que eu permito que viva de mim.
Assim como você é 'de mim'.
Como tudo nos permite ser assim, um.