segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sertão de Aquarela.

Desenho de Marlua de Sousa Correia

A pele seca. Uma cachorra com nome de peixe. Peixe sem água. Peixe grande.
Meninos barrigudos. Olhos fundos, boca de farinha e rapadura.
Mulher de canela fina, de vestido colorido, maltrapilho, branco terra.
Homem de camisa aberta. Botões abertos no peito, puídos abertos no braço, no bolso, no colarinho.
Rasgões de sol abertos na testa, na boca, nos braços, na terra.
Rasgões de cabo abertos na mão, na palma da mão, mão espalmada pedindo clemência.
Olhos que fitam a terra que se abre como se fosse brotar.
Sol que cega os olhos que fitam a terra.
Mandacaru abre os braços num abraço de mãe zelosa.
Abre flor, gera fruto.
Gavião paira o quintal, esperando o burrego.
Olho ao longe e dou tchau.
Mandacaru acena feito mãe saudosa. 
O sol não mais queima e vou embora.
Abro os olhos e vejo uma tela de Romeu, e faço minha própria tela.
Tão perto e longe, é meu Nordeste, de aquarela, sol, carvão e terra.

2 comentários:

gigio disse...

Aquarela, tintas em mistura. Mistura de cores, sentidos e sentimentos. Isso tudo se percebe aí. Muito bonito o texto. Ser-tão de águas dela.... =)

Marlua disse...

Assim vc me faz transbordar muito muito... Agradeço por meu sertão ter mandacarus floridos como vc!!!