Querer acreditar que tudo vai acontecer. Tentar fazer e não saber... Como?
A necessidade de andar, de sentir o vento no rosto, de sentir um afago nos cabelos, um carinho de colo. Querer acreditar que tudo daria certo.
Chama aquele que a considera prioridade. Sai. Tenta sorrir. Beija. Tenta acalmar. Cheira. Tenta aceitar. Quer sair. Tudo deu errado... ou certo. Quer apenas o silêncio, o olhar que sempre é carinhoso, mas não se olham. Se abraçam sem deixar que os olhos se abracem. Pensa em tudo que viveram, em tudo que não poderia ser diferente, parece que está escrito... jamais se encontrarem como um só, sempre as duas metades vagando, sempre.
Quer correr mais não dá. Quer mostrar que está sorrindo, mas é somente por fora. Quer abraço. Quer carinho. E ouve... "Aprenda a viver com a solidão." E não acredita. Não ouviria jamais algo semelhante daqueles lábios. Lábios que beijara, lábios pelos quais sofrera, lábios que calaram quando tinham que calar, e agora falam quando tinham que calar. Seus olhos de gude cintilam em uma lágrima seca, lágrima que prometera jamais derramar por ele, jamais molhar a face por ele novamente. E os olhos novamente não se abraçam. Sorri. Um sorriso sem brilho, apenas sorri... Movimento de músculos faciais meio incompreendido. Sorri.
Levanta. Sente a mão entrelaçar a sua. Ele a quer, ele sabe que sempre a quis, há uma década ou mais, ele quer ela perto, hoje fala que a ama constantemente sem que ela diga uma palavra de reciprocidade.
Rasgam o asfalto. Calados. Param, se olham, mas os olhares não se abraçam, e dói, e machuca. Beija. Lábios que deveriam calar e que falaram, beijam, lábios de querer e de ir embora. Deseja o bem. Ele rasga o asfalto, olhar baixo, olhar que não abraça, sem jaqueta aberta, sem botões, pois não há camisa, sem afeto. A vida o está fazendo assim. E ela não mais sofre, mas pede pela criança de 'olhar marejado sem haver mar', que 'segura feito borda de tanque cheio', mas ele não a quis, e por ele sim ela sofreu, um momento que fosse, ela sofreu, vários momentos, por ele ela sofreu. Não queria beijar a boca que não mais cala. Não queria os braços que não abraçam. Queria e quer aquele que tem bochechas de romã, que foge dela desde criança, que a fez feliz, que acha que está pela metade, mas não quer ser inteiro com ela, que não percebeu que está pela metade porque acha que tem que ser inteiro antes de tê-la, que não percebeu que ela é a metade que falta para ser inteiro, que tem medo. E ela deixa seguir. Ela espera que a borda do tanque não ceda, que os olhos a olhem novamente, que as mãos de apertar, o ocre da pele, a romã das bochechas, os olhos sempre marejados, a boca que ela quer beijar, a outra boca que sempre fala mais do que cala, que esta abrace a sua, e que o marejado dos olhos molhe os dias e noites em orvalho, que volte para não mais curar as asas da borboleta, mas para refrescar os pesares, para acalmar o coração, para fazê-la naufragar nos olhos sempre marejados. E ela voa sem Vento, em brisa ou tufão. Um voo mais pesado, mais seco. Mas ela não deixa de voar, mesmo querendo que o Vento vente logo. Ela não para de voar, e quer que o Vento volte logo. Mas segue, querendo o Vento... Logo.
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