quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Gestação.

Há coisas com as quais convivemos e pessoas que lemos que fazem a imensa diferença entre o abrir e fechar os olhos no nosso dia. O piscar, de paquera, de sono, de lacrimejar, de cisco no olho, de olhar para  o lado... apenas o piscar... e tanto faz a diferença!
Mais uma vez a vontade... pareço mulher prenha, de tantas vontades, tantas necessidades. E estou prenha, prenha como um porquinho da índia, como um roedor, a intervalos cada vez mais curtos. E não é só o corpo que cresce, é o coração que de tão vazio se torna um hall imenso de um hotel fantasma, habitado por não se sabe quem ; poltergeist, dentro do peito, faz estrago e perturba!
Mais um desejo. Nada de chocolates. Um outro pedaço. Um naco grande de viagem, de água fria, de pé no chão. Um naco maior ainda de descanso, de pernas para o ar, de mente vazia, de ócio criativo. Acredito que só crio quando paro de pensar.
Mais um pedaço. Um pedaço de vício, de estar sozinha para reviver o medo de por os pés no chão e algo embaixo da cama estar com você; de reviver o medo do vento uivante, de reviver o medo, de reviver. Um abocanhado na passagem do tempo; que ele invada a minha boca e meu esôfago, e permaneça em claves ao vento, nos ouvidos de um qualquer que goste de música. Um pedaço grande, um pedaço imenso da fumaça. Muitos pedaços da fumaça. 
Eu me vejo no espelho como uma mulher prenha, medidas, vontades, desejos, superstições. Carrego sempre dentro de mim o quite de quem está prenha, um tubo de linha vermelha para curar soluço, sapatos de lã também vermelhos para cuidar da saúde, uma pulseirinha de ouro, para dar sorte, uma garrafa térmica com água quente, chumaços de algodão... e para não perder a magia de estar prenha, uma figa de jacarandá baiano, uma pimenta de resina, um olho grego, uma carranca, tudo pendurada em um escapulário de Santo Expedito trançado com palha da costa. 
Quero todos esses desejos, superstições e certezas e também incertezas. Se algum se realiza quero mais dois para que algum se realize um dia, e para que eu esteja prenha como um roedor, em intervalos cada vez menores, pois vivo por estar gerando vida. Vivo por estar prenha da vida. Vivo por gostar de estar prenha. Essa gestação nunca cessa. A gestação de gerar-se em vida. E é tudo isso que faz a diferença entre o efêmero e o eterno. Minha gestação é a linha entre esses dois abismos, é infinita!

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