Tudo o que era de ser foi. Tudo em que ela acreditava se prova a cada momento. Mas quem é ela que não se mostra. Que em fotos se mostra pela metade, rosto, olhar nunca fixo. Seria o medo de se mostrar, de ser descoberta? Ela quer ser uma incógnita, uma interrogação e muitas vírgulas.
Sempre que lhe olham nos olhos se perdem, em imensidão que não cabe em lugar nenhum, mas que dá aconchego que ela não sabe de onde. Os olhos sim, esses são aqueles delatores que entregam qualquer vilão. E ela não se mostra inteira em seus olhos para que não roubem sua essência, estes delatores a incriminariam de amar, de viver, de querer mais.
Ela relembra dos tempos de colégio, dos amigos que se foram mas permanecem ainda, pois a distância é pouco. Ela lembra daquele feito de sol que só enxergava as nuvens escuras, que fez amor em seus olhos e que hoje se apresentou depois de tanto tempo achando que perdeu o verniz de ser sol, mas como pode se ele nunca se descobriu sol?
Ela relembra do que a tomou por inteiro, desde o primeiro olhar, que se vestiu dela em todos os sentidos, que nunca a abandonou mesmo nos momentos em que ela o acusou, que se vingou, que hoje ri de tudo que viveu, que hoje ainda vive com ela e que jamais a deixará, porque ambos são mais que carne e osso, são energias vindas de antepassados, orixás, elementais.
Ela pensa naquele que a fazia mergulhar em seu lago azul, e queria beijar a verde mata que havia em seus olhos, e o fazia toda manhã, e a acalmava apenas por existir. E que ainda lhe deve uma canção, ainda lhe deve muitas canções, que não tardará serão pagas. Aquele que ela não entende porque nunca tentou que fosse seu, pois sempre teve a certeza de ser seu.
Ela lembra da menina fútil que andava pela escola pisando em ovos com o coração partido. Um dia encorajou-se e a aninhou em seu colo e cantou águas, chuva, tudo para limpar as tristezas dessa menina, e a secou ao Sol, e hoje elas são uma só, muito diferentes, são as metades que se encontraram e se afastaram e que voltarão a se encontrar.
Pensa naquela que é feita de arco-íris, já se magoou, já se desculpou, mas nunca a deixou triste. A menina que já deu frutos, que já tem outra metade, e que merece mais do que possui, pois já foi dito, ela é feita de arco-íris.
Lembra daquela que tanto a fazia rir, que não era daqui mas estava em todo lugar, que era grande demais pra tudo que a propuseram fazer, mas mesmo assim nunca deixou de enfrentar o que lhe impuseram. Que tem cor das árvores das savanas à noite, que tem sorriso de água benta e de pecado.
Pensa na branca de neve de sardas, fora e dentro dos padrões, que cantava pra não encantar, mas encantava com melodias infantis e que ainda hoje, mesmo depois de tanto tempo, depois de tantos desencontros ainda permanece nela.
Lembra daquele que tanto a enamorou e tanto faz parte dela e que tudo o que queria era que desse certo, mas não deu, ou deu certo, pois ele nunca se afastou, nunca deixou de amá-la, nunca deixou de compartilhar a sua vida com ela, nunca escreveu um livro porque disse que seriam vários e todos os capítulos sobre ela, nunca se descobriu, nunca a ouviu, apenas sabe que ela sem ele não é ser e ele sem ela... (ele prefere como sempre não responder)
E ela vê que a vida é boa, que ela se inspira porque existiu um tempo bom, esses "bons" permanecem nela, e ela realiza o que sempre quis, sua vida de interrogações, de muitas vírgulas, de algumas exclamações, de muitos parágrafos e nunca um ponto final. Pois eles existem.
(Aos meus pedaços: Thiago Santiago, Rafael Gabriel, Rodrigo Teixeira, Talitta Vignoto, Samara Braga, Elizane Oliveira, Rebeca "de Alvy" e Marlucio Nascimento)
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