Será que ela se sente tão cheia a ponto de explodir de tanto cantar, de tanto ser música, de tanto ser nota, de tanto ser instrumento?
Eu me sinto assim,Cigarra, mas cigarra que não sabe se canta ou se explode, ou se explode de tanto que canta, ou se canta para que se exploda!!
Paro ao ouvir algo da moda, Gadú, Céu, Cañas, e gosto. Mas queria ouvir um Jazz, um Blues, na companhia de alguém quente em dia de frio. Numa rede de fibra, numa esteira de palha. Num lugar onde só existisse a vitrola, os corpos, a esteira (ou a rede), uma manta e o desejo, a satisfação, o prazer. Numa casa que ainda não tenho, o alguém que quero ter por muito tempo, no frio que tardará a chegar, no tempo que não é compatível com meu, o meu é "AGORA!" o que me impõem é o "AMANHÃ QUEM SABE!", quero viver de coisas incertas, mas que me deem segurança; quero os braços que me acalantam, mas que me fazem solfejar de lasciva.
Não paro de querer. Não pararei de querer, o tudo que eu não tive, o tudo que eu tive e quero repetir, aquilo que não pensava em ter, mas me foi proporcionado.
Quero tudo e não perder nada, só não queria estar aqui agora presa em uma sala escrevendo por um teclado. Odeio papéis, mas os amo quando ouço o barulho do lápis. Sim!! Do lápis, gosto do lápis, não da caneta; a caneta nos impede de ser despreocupados, de escrever o que sentimos, com a caneta escrevemos sempre o que achamos ser certo, pois temos a ideia de jamais poder apagar o que se escreve à caneta. O lápis nos deixa livres, errou, apague, faça novamente, mas nem é preciso porque as palavras brotam com tamanha facilidade, tamanha pureza e tamanha delícia que tudo que sai é verdadeiro e não deve ser mudado, porque sabemos que podemos ser nós mesmos, que podemos errar que tudo é apagado e reescrito. Odeio papéis, mas os amo quando já estão escritos, repletos de tudo que eu nem sabia que sentia, que eu nem sabia que sabia. Odeio papéis, mas os amo quando espirro ao abrir um livro velho, e ver as páginas amareladas que nem parecem papel.Odeio os papéis novos, brancos, intactos; amo-os quando velhos, amarelados, cheirando ao que já se sentiu, ao que já se escreveu, cheirando a história que não se sabe. Odeio os papéis, quando vejo que minha vida será escrita em papéis brancos, novos, que só os amarei quando talvez eu nem aqui estiver, e outros que odeiam papéis novos, brancos, que não nos fazem espirrar, poder ler o que escrevi, em folhas brancas que odeio, mas que as amarei pois estarão amareladas e com histórias que não se sabe.
Agora no fim já ouço um jazz (Madeleine Peyroux), e quero tudo que nunca tive, tudo que já tive e quero de novo, tudo que nunca pensei em ter mas me foi proporcionado.
Quero continuar odiando papéis,sem culpa alguma, odiando papéis brancos e novos, apenas por saber que eles um dia serão amarelados e cheios da minha história de dia frio, numa esteira de palha (ou na rede), ouvindo um Jazz, ou um Blues, nos braços que me fazem solfejar, abraçada ao corpo quente daquele que quero por muito tempo.
2 comentários:
simplesmente impressionante!
Obrigada!! A vida é assim, impressionante... A gente conhece pessoas e essas nem sempre nos permitem sonhar, outras nos fazem sonhar acordadas..amando ou odiando papéis, mas querendo construir uma história...
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