SÉTIMO CONTO DOS CORAÇÕES ÉBRIOS
por Marlua
Era festa da carne, carnaval!
Confetes e serpentinas voando pelo
céu colorindo a noite. E ela, o Pierrot, atrás do amor da Colombina. A lágrima
no canto do olho e na face era líquida, incolor, manchando a maquiagem e
embaçando os óculos. Era muita carne e poucas que valem a pena chorar.
Sua Colombina é de carne e osso, de
carne como tem que ser no carnaval. Ela, o Pierrot apaixonado em bailinho
matinê, colorido demais para suas curvas preto e branca xadrezes. A Colombina era mareada e ébria. O Pierrot
era fêmea, ébria e Pierrot.
Todos os copos cheios, as latas e o
som. Era latrina na mente Pierrot.
Eram pernas e braços, mãos e
abraços. Todo desejados e negados. Era a tez esbranquiçada com os olhos em
chama. Com os braços como o Cristo, mesmo que o sofrimento fosse menos
compadecedor. É carnaval, a carne lhe vale. A carne lhe entretém como rodízio
em churrascaria em domingo de família. Seu coração em espeto barateando o custo
ao seu pesar e contentamento. Atrás dela só não vai quem já morreu, e vai atrás
dela um enxame de gente. Carnaval e nada vale.
Volta o Pierrot atrás do amor da Colombina.
Horas a fio, coração em fio de alta tensão como o trio que não passou. Colombina
ébria e fugaz. Pierrot sendo Pierrot. Cama vazia num bailinho matinê. A
fogueira está queimando em homenagem... Não, não! É carnaval!!
Volta o Pierrot apaixonado. Atrás
do trio elétrico pula a Colombina ébria. Morreu e nasceu, antes da quarta feira
de cinzas. Pierrot sendo pierrot, Colombina sendo Colombina.
-17 de fevereiro de
2015. Vitória da Conquista Bahia. Deitada em mesmos travesseiros de dois anos
atrás, mesmos lençóis.