Quero escrever trovas, compor melodias, pintar quadros,
sujar os dedos de massa de bolo, cozer colchas de retalho.
Quero fugir do mundo, fugir do povo, fugir da cama e fugir
de mim.
Quero encontrar novos olhos, novos odores, novos abraços,
novos lábios, novos falsos amores até encontrar um novo eterno amor.
Quero levantar da poltrona para fazer um filme e não somente
assisti-lo.
Quero correr dentro d’água e não me afogar. Afogar-me
somente de tédio para que eu tome rumos para acabar com ele.
Quero comer bolo de chocolate e não me preocupar com as
medidas.
Quero ser árvore que cresce em direção ao sol, quero ser ave
que voa com o vento, quero ser água que corre todo o mundo, quero ser terra
para firmar-me em um leito calmo, um leito raso, ou leito profundo e caudaloso.
Quero chuva na janela e chá no bule. Quero lareira e manta
de lã.
Quero também água salgada e corpo nu. Sol queimando a pele e
água de coco.
Quero coxas sedentas em montanha fria. Quero lábios frios em
cobertor quente.
Quero mãos nas costas em colchão macio. Quero mãos em todo o
corpo em rede a balançar.
Quero às vezes tudo. Queria estar escrevendo em folha,
registrando à tinta. Queria mais sabores que dissabores. Amar igual a ser
amada. Sentir calafrios e continuar sorrindo dos ‘pelinhos’ que arrepiam no
braço, na perna. Quero sentir afagos e ofegar de tudo que me posso permitir, de
tudo que me faça tropeçar e também alçar vôo.
Quero vez em quando nada, como esse vazio aqui dentro que me
preenche feito um copo vazio cheio de ar a se expandir!
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