Sinto-me uma folha em branco. Um toca fitas sem fita. Primavera sem flor, um bandolim sem cordas em meio a um show de Chorinho. Uma cantora de ópera com calos vocais.
É o dia que começa ruim, é o sol que brinca de se esconder num dia em que ele deveria estar trabalhando. São pessoas necessárias que não se vê, palavras importantes que não se ouve, toque que não se sente, cheiro que não exala.
Boca que não beija, língua que não lambe, mãos que não apertam, ventre que não lateja.
Idioma estrangeiro que não se compreende. Um não estar estando, aquilo que não se sabe mesmo depois de ensinado e aprendido, lágrima seca na face molhada.
É o hoje que não chegou, ontem que não passou, amanhã que já se sabe.
É a falta de si mesma, de inspiração, e sobra de confusão, confusão que não a confunde, caos que não a desnorteia, e isso preocupa. Preocupação despreocupada, a certeza incerta.Orixá sem terreiro, atabaque sem couro, capoeira sem jogo. O pequeno que é imenso, o sangue que não corre, o mar que não salga a boca, a lua que não ilumina nem alumia ou é iluminada.
Sou eu sem inspiração.
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