Quando eu te vejo é para me colorir e me doer mais
Seus sabores quentes em minhas papilas
Seus odores marcantes em minhas narinas
Seus calores gélidos em minhas mãos
E teus suspiros enérgicos em minha audição.
Suas figuras desfiguradas nos meus desenhos em aquarela
Suas falsas solturas da minha mente amarela
Seus passeios terrenos e lúdicos em minhas pernas
Seus deleites soturnos e diários em minhas almofadas carmins
Sempre a levar o que há de bom, e descobrir o que há de
malévolo em mim.
E eu com mania de perseguir o passado, feito cachorro atrás
do rabo
Deixando tonto o nosso convívio
Fazendo torto o nosso encontro
Deixando passar as retas curvas da nossa infecunda
teatralidade
Vendo-me perder totalmente a nossa poética realidade
E me afundando nessas minhas falsas praticidades.
É o encontro vivo entre meu rabo e minha cara
É o cachorro torto e tonto fora de mim
E dentro minha cadela inválida
Os peitos murchos, as boca flácida
E de repente a loba uivando e soltando mais falácias.
A sarna coçando por entre os dedos
A cólera empobrecendo meu apego
A fome secando minha carne de tanto medo, a fome do medo...
O ouro que antes via e não via me dando febre
O ferro podre envermelhando a minha branca neve fria pele
E meus pedaços doídos coloridos por te olhar novamente nessa
podre semente que plantei para colher quaresmeiras em flor no meu enterro,
enterro de preces ao ciclo da minha vida.